Educar para a Morte é ensinar a Viver ( Crônica)




“Educar para a Morte é Ensinar a Viver”
por Haydèe Ferreira


Há uma sabedoria silenciosa que poucos aprenderam: despedir-se é uma arte sagrada. Diante da morte, muitos se perdem em ruídos, como se a vida não tivesse sido mais do que uma feira apressada. Falam alto, esquecem-se do tempo, tratam o velório como um intervalo mundano entre um compromisso e outro. E eu me pergunto: onde foi parar o luxo da alma?

Não, pessoas não são corpos. Somos eternidade encarnada. O corpo é um templo provisório — morada gentil de uma alma imortal. E quando esse templo repousa pela última vez, a casa se faz altar. O velório deveria ser isso: um templo de luz e amor, um jardim de preces, um coral de silêncios.

Despedir-se com reverência é reconhecer que ali houve vida. Que aquele corpo foi abraço, foi afeto, foi história, foi presença. Como não calar diante desse mistério?

A morte, para mim, não é um fim. É um retorno. É o momento em que o invisível se faz verdade e a alma voa para os braços do Eterno. Por isso, um velório deveria ser belo. Florido. Harmonioso. Um testemunho de fé, um hino de compaixão. A última homenagem, não ao corpo, mas ao espírito que ali viveu.

Sei que dói. Mas até a dor pode ser elevada. Há lágrimas que são orações. Há abraços que são pontes entre o céu e a terra. Há silêncios que falam mais que discursos.

Eu sonho com velórios que eduquem. Educar para a morte é educar para a vida. Ensinar a se despedir com amor, com presença, com delicadeza, é ensinar a viver com profundidade. Ensinar que a morte é uma passagem — não um espetáculo, não uma distração, não um incômodo social.

Recolho, com reverência, essas experiências e ofereço uma prece: que possamos aprender a morrer em paz. E, antes disso, que saibamos viver com alma, viver com sentido, viver sabendo que somos espírito, que somos eternos — e que, quando chegar a hora, sejamos acolhidos por olhos que choram de amor, e não por olhares distraídos.

Porque morrer é voltar. E velar é ser ponte entre dois mundos — com fé, com flor, com silêncio e com luz.




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