A Ausência Assimilada ( Crônica)


             
       Kokedama - "Ausência Assimilada" do artista botânico 
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Crônica Ausência Assimilada
De: Haydée Ferreira

“Por muito tempo, acreditei que a ausência era falta. Lastimava, ignorante, a falta. Hoje, não a lamento. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão próxima, aconchegada nos meus braços, que rio, danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba de mim”

Carlos Drummond de Andrade

Achava que discordava do poeta, nesse poema dele chamado “Ausência”, pois para mim, a ausência era uma forma dolorosa de alguém se prejudicar, se entristece e ver cercado de muitas faltas e essa ausência doe na alma.

Quando alguém se afasta da vida do outro e prefere viver na solidão, vai perdendo os afetos, a alegria de viver. Também a falta de bons trabalhos, de dinheiro suficiente, de paz, de amigos e tantas outras coisas também doe como abandono. Pois, o gelo da indiferença e da ausência, fere, queima como fogo e machuca e condena a quem mais a gente quer bem. 

Sabia que a Unidade dos primeiros cristãos, que aprenderam com Jesus, a viver na unidade e eles  faziam florescer, um amor que ia e voltava, com a mesma força, como um fluxo da circulação sanguínea que mantém o coração em êxtase pelo Amor de Deus por nós!
  Sabia que alguém que não ama o irmão que é presença, como pode amar a Deus, que não vê? Se alguém ama a  alguém e deduz que, por amor, quer ser ausente na vida dessa pessoa, ela não o ama.

Via com muita frequência pessoas assim, que, com desculpas de se proteger, perdem a oportunidade de ser amor e ferem a si e profundamente outro.
Também acreditava que maior dor desta vida é ser abandonada, rejeitada, esquecida e ignorada, e isso deixa sequelas para a vida toda.

Porém, como um passe de magica, um milagre, eu de tanto colocar minhas lamentações no coração de Jesus e da doce Virgem Maria, comecei a lembrar do que aprendi com Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares e já Beata da Igreja Católica, sobre Jesus Abandonado, e como me consolou reviver nessa “Quaresma” a dor de Jesus na Cruz, quando a dor chegou ao desespero e ele gritou, no idioma de sua mãe: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"

Ou seja, em aramaico:

"Eloi, Eloi, lama sabachthani?"

O grito parecia querer alcançar a mãe, como um lamento de uma criança que chama pela mãe diante de uma dor imensa. Não há dor maior nesta vida do que se sentir abandonado, e por Deus então! Jesus reclamou, choramingou pela mãe, mas em seguida se abandonou nas mãos de Deus:

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito!”

A maior dor de Jesus foi se sentir abandonado por Deus, e lembro como Chiara Lubich, ao receber o carisma da Unidade e assumir como ideal de vida, compreendeu que o maior ideal do Movimento do Focolares, que começou em 7 de dezembro de 1943 com sua consagração a Deus, foi logo em seguida, no dia 24 de janeiro de 1944, quando Chiara teve a graça do Santo Espírito de compreender que o Amor a Jesus Abandonado era o destino da Obra de Maria. E ela escreveu:

Tenho um só Esposo na terra: Jesus abandonado. Não tenho outro Deus senão Ele. Só se conhecia a Ele. Não se queria conhecer senão a Ele. O Espírito repetia dentro de nós: conheço senão Cristo e Cristo crucificado"

Amar a ausência é mesmo amar o Jesus Abandonado e, assim eu ..

… “Hoje não lamento a ausência...”

E até lembrei que, há muitos  anos atrás, com a criação de uma loja chamada "Harmonia", com o propósito de levar flores, livros, curas, bem-aventuranças. Sofri muito quando percebi que encontrei uma ausência de Deus numa labuta sem fim , em muitas dificuldade e sempre que ia contar a uma focolaria os meus sofrimentos e dificuldades com a loja, ela dizia com alegria:

“Ó Haydee Maria, como Jesus te ama!”

E não sei como, aquela alegria dela me fez entender que toda aquela minha ausência de Deus era apenas a visita de Jesus Abandonado, e me fez imediatamente o acolhe-lo com amor no coração e logo a dor, a desarmonia, as aflições passaram. Pois ao abraçar Jesus Abandonado com alegria ganhei o “Ressuscitado” logo me veio a paz e a presença Dele na minha vida naquela situação.

Assim, hoje, novamente compreendi que ao começar aqui nessa crônica querendo contestar o poema “ausência” de Carlos Drummond de Andrade, queria de verdade contestar a ausência da presença de Deus na minha vida desde 2020, quando recomecei a rever perdas do passado, que ficaram mal resolvidas e que culminaram com a morte da minha mãe, e começou de novo um tempo de Jesus Abandonado.
E como essa falta e outras faltas eu vivia a lastimar a falta... ou as faltas! Hoje aqui, no auge dessa dor imensa de abandono, que vi que não era nada disso que falei no início deste texto.

A saudade, a tristeza, a dor do abandono, nada mais era do que a presença de Jesus na falta. E como um milagre, vi que, como Chiara Lubich, entendi que eu …


“Tenho um só Esposo na terra: Jesus abandonado. Não tenho outro Deus senão Ele… “

Agora sim, eu sei que...

“... rio, danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba de mim.”

Jesus Misericordioso veio me resgatar. Não sinto mais falta... sinto uma presença aconchegada em mim. Bendito seja Deus por esse milagre de poder acolher Jesus abandonado no meu coração e ter imediatamente o Jesus Ressuscitado.

Assim, como Digéia, aquela focolarina, que sempre me dizia que tudo é só o Amor
 Jesus. E foi assim esse ano vivendo bem "A Quaresma" eu num passe de mágica, vi se aconchegar em mim,  "O Ressuscitado"

 "Ausência" Assimilada se torna presença de Um Deus Santo, Vivo e Imortal!

Amém, meu Amado Jesus Misericordioso!!!
AMÈM!




P. S . Essa compreensão me veio lendo este texto, “Escolher Deus significa escolher Jesus Abandonado para ter o Ressuscitado.

Veja ai link sobre Jesus Abandonado de Chiara Lubich:


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