A Praça em Mim
A PRAÇA EM MIM
Vivia numa correria
de arquiteta, rua acima e rua abaixo. Achando muito valioso ter como ofício
levar beleza e harmonia onde as minhas mãos tocavam.
Dizia que amava
urbanismo, queria a cidade bonita, mas tanto corria que nem o feio nem o bonito
eu percebia.
Queria, com a minha
missão de arquiteta e urbanista, mudar e embelezar o interior das casas e
também das ruas e das praças e belos prédios projetar para na minha TERESINA.
Mas o tempo era
tão pouco para tudo o que queria fazer que nem tempo para espiar o que se
passava no interior da alma eu tinha! E oportunidades? Essas não
apareciam, e nada disso que eu sonhava, de verdade, acontecia.
Frequentava academia
confinada entre quatro paredes, achando que era o máximo aquilo, mas tudo era a
mesma correria, numa esteira, que do lugar não sai.
Então chegou a
pandemia, e veio com ela o confinamento e muito isolamento.
Para a rua eu não
podia ir, as lojas não abriam e o mundo parecia cair. Medo e tortura se a TV
abria, aquilo parecia uma guerra cheia de mortos e feridos.
A princípio
inércia e, como eu, ninguém em meses conseguia parar a correria.
Corria em casa, me
ocupando, fazendo organização doméstica e querendo educar o mundo com lives, aulas, vídeos e postagens nas redes.
A casa...
compulsivamente decorando como arquiteta de plantão, já que ofício, que era
bom, não tinha para exercer. De nada adiantava arquiteta ser!
De repente, as pernas
enferrujaram, os joelhos começaram a doer, e como as academias não abriam
resolvi ir caminhar numa "Praça" para exercitar o corpo que estava a
perigo. E todo dia caminhava, tinha dia que me dava uma preguiça,
preguiça grande... mas eu persistia, e ia.
Tentava,
enquanto caminhava, rezar...Mas não conseguia... tentava fazer
Ho'ponopono..Mas me distraía ...
Tudo era só caminhar
até cansar! Eu e a máscara travamos brigas de foice, porque ela não me deixava
respirar.
A cabeça só pensava,
tadinha dela, e era sem parar... como se dentro houvesse uma TV ligada
ininterruptamente e desembestada no meio dos pensamentos ...
Caminhava e caminhava... às vezes, me sentava num banco da praça para
aliviar o cansaço e sonhava com esse meu coração voador.
Ah, Coração Voador!!!
Como ia longe! ... Muito longe!!!
E nisso ele foi
aprendendo a serenar, não pensar ... e só ali estar.
De repente!... A praça tomou conta de mim...Percebia as
árvores, que são tantas e lindas!! Com copas que pareciam tocar o
Infinito.
Fui
reconhecendo a presença dessas arvores, captava a essência de cada uma e as
identificava pelos nomes: Angelim, Pau D' Arco, Gonçalves Alves, Caneleiro, Pau
Brasil, Angico Branco, palmeiras Pati, Ipê Roxo, mangueiras, pé de caju... e
por aí vai.
Em um outro dia,
comecei a ouvir os passarinhos a cantar, e muitos. Belos acordes que invadiam
meu ser. Assim... já não mais me incomodavam os carros e as motos que por ali
passavam. As folhas ao sabor do vento e os pássaros fazendo festa abafavam
qualquer barulho.
Até que em outro
dia... Vi de repente a beleza das copas das árvores que me fazia sempre olhar
para o céu.
Fiquei encantada e
fascinada com imensidão do céu tão azul... tão límpido e tão grandioso.
E esse fascínio era
tanto que já nem via o lixo orgânico estufando nas lixeiras, nem a quantidade
de papel e folhas secas dando um ar de extremo abandono naquele oásis... tão
cheio de alegria, cor, luz e boas energias.
O céu brilhava
muito mais do que aquele chão insípido que os pés pousavam.
O banco da praça me acolhia com tanta ternura como se ali estivesse só
para me receber!! E foi assim que começou meu namoro com a Praça.
E que namoro mais
lindo, aconchegante, cheio de amor e ternura!
Ah!! E como é gostoso
a gente ficar enamorada!
Eu na Praça e a
Praça em mim!
Fui descobrindo o valor de uma Praça, cujo abandono não é por falta de
cuidado, mas por mau uso.
As pessoas não deixam
as praças entrarem dentro de si, como também não se permitem entrar em si
mesmas.
Muitos corações
estão abandonados como praças, por falta de uso e de "Pertencimento".
Verdade!...
Pois eu só pertenço àquilo que amo com a alma e o coração. Nós não nos
pertencemos porque não entramos no nosso santuário interior.
As praças são o
coração de uma cidade, o que nos faz pulsar. Mas se não percebermos a essência
daquilo que a Praça nos dá, jamais entramos nela, temos antes de deixar que ela
entre em nós.
Assim o coração passou a pulsar, junto com o coração da praça.
Agora somos
Um.
Apenas Um; exatamente
como Deus quer que sejamos com todas as coisas, com o Universo inteiro e com
toda a humanidade: UM.
Depois do meu namoro
com a "Praça", nada mais importa, quer seja ser arquiteta, ser
urbanista ou decoradora... ter sucesso, dinheiro e tantas
conquistas vãs... pois o segredo da vida é pertencer, sendo Um.
Eu Sou... Eu Sou a
Praça... Eu sou tudo o que há, porque Eu Sou Amor.
Amém!!
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